sábado, 8 de junho de 2013

Depois da Terra



A um certo tempo, muitas das críticas relacionadas ao nome M. Night Shyamalan, dizem respeito a perda de qualidade das produções do diretor e roteirista indiano. Para alguns desde “A Dama na Água” (Lady in the Water, 2006) Shyamalan vem decaindo, para outros, no entanto, o único filme de qualidade do diretor seria “O Sexto Sentido” (The Sixth Sense, 1999). Quando na verdade, com exceção de “O Último Mestre do Ar” (The Last Airbender, 2010) o qual não recebe roteiro original do diretor, Shyamalan só demonstra uma evolução e apuração de técnica, o que não é perceptível a olhos que procuram no cinema nada mais que o óbvio.

Em “A Vila” (The Village, 2004) a campanha de divulgação do filme que passava em meio a anúncios publicitário da TV aberta, alertava algo como “Não conte a ninguém a final do filme”, despertando no espectador uma curiosidade instigante, curiosidade que se tornou decepção, pois mesmo diante de um desfecho tão inesperado e inimaginável quanto o proposto pelo filme, onde o Shyamalan brilhantemente quebra a narrativa fantástica e direciona o espectador ao mundo real, rompendo a expectativa dos fãs dos gêneros suspense e terror, ao quais ao não saber dar crédito ao estilo de Shyamalan, simplesmente classificaram o filme como ruim, mesma situação que ocorreu antes com o filme “Sinais” (Signs, 2002).

Em “Fim dos Tempos” (The Happening, 2008), Shyamalan se aproxima mais da proposta de “Depois da Terra” (After Earth, 2013), cria uma situação fantástica que proporciona o caos, a qual de maneira alguma representa a narrativa principal do filme, apenas a contradição de onde quer chegar. Em “Fim dos Tempos”, estamos diante do casal Elliot Moore (Mark Wahlberg) e sua esposa Alma (Zooey Deschanel), que visivelmente passam por uma crise no casamento, enquanto o mundo é tomado por uma “epidemia”, na qual após apresentar sintomas como falar coisas sem nexo, e perda do controle dos sentidos as pessoas começam a cometer suicídios coletivos. Shyamalan então propõe o caos para “encobrir” o drama do casal, que em meio à aflição e o medo de perder o outro a qualquer momento, redescobrem-se enquanto casal e buscam a sobrevivência.

“Depois da Terra” segue a mesma premissa, porém nessa produção os humanos habitam outros planetas e utilizam facilmente o espaço como via de transporte, uma vez que tudo no planeta Terra evoluiu para eliminar a raça humana. Nesse contexto, a nave onde estão o general Cypher Raige (Will Smith) e seu filho Kitai (Jaden Smith) – frustrado por não dar ao pai ausente e autoritário, a notícia de que havia se tornado um ranger, cargo no exército no qual seu pai possui notório destaque – é obrigada a fazer um pouso forçado no planeta Terra, em que da tripulação apenas Cypher e Kitai sobrevivem, porém como seu pai está gravemente ferido, Kitai deve buscar em um planeta, para ele, desconhecido, o sinalizador que restabelecerá a comunicação com o planeta em que vivem, caso contrário, pai e filho não sobreviverão.

Kitai que se destacava nos exercícios individuais, porém não na simulação de combate, deve seguir sozinho, porém sob a orientação do pai, que através de câmeras dispostas na roupa especial de Kitai, acompanhará todos os movimentos do filho além de poder prever os possíveis predadores que se aproximam. O roteiro óbvio, não surpreende, o que não faz com o filme perca qualidade, pois na verdade a situação fantástica de “Depois da Terra”,  se contrapõe, não a reaproximação entre pai e filho como em “Fim dos Tempos”, mas a busca pelo autoconhecimento pela qual Kitai é obrigado a vivenciar, uma vez que, devido um acidente perde a comunição com o pai e é obrigado a seguir os próprios instintos e a vencer o orgulho, motivado pela busca da sobrevivência.

E a busca solitária de Kitai, além de conquista o respeito do pai, Cypher, prova que Jaden Smith não cresceu apenas em estatura, e que, para o cinema, deixou de ser o filho de Will Smith, para ser o ator Jaden Smith. O filme é dele, e o ator não decepciona. Além das atuações destaca-se a direção de arte e o figurino, propondo uma imagem futurista onde o mundo continua touch e com imagens em 3D, pois disso não se pode fugir, mas com estruturas construtivas simples, as quais parecem até artesanais, dando um visual inovador a produção, bem como as vestimentas dos personagens, quando não pressupõe uma situação de combate. Shyamalan mais uma vez não decepciona quem tem olhos para ver que seu cinema vai muito além do óbvio, vai muito além das imagens que transmite ou do roteiro que parece não surpreender, as histórias de Shyamalan nos falam de pessoas que poderiam ser e são como nós, no cotidiano, essa é a beleza das produções desse diretor e roteirista que a cada nova produção, apurou tanto sua técnica, que faz com que o todo se pareça nada.