sexta-feira, 16 de julho de 2010

Meu Pé Esquerdo


   O que se deve fazer, quando se nasce com uma deficiência cerebral a qual só permite o controle do pé esquerdo? Sendo que tal situação ocorreu em uma família pobre, que no caso do filme está situada na Irlanda. Quando ao nascer os médicos dizem a sua mãe que nada de bom deve ser esperado de um filho que passará sua vida toda em estado vegetativo? O que se deve fazer quando um pai não aceita ter um filho diagnosticado, como deficiente, o que o pai associa a incapacidade? Esses todos e muitos outros questionamentos são trazidos pelo filme “Meu pé esquerdo” (My Left Foot), dirigido pelo irlandês Jim Sheridan (Em Nome do Pai; Terra dos Sonhos), um filme de 1989.
    Há que ser gênio para vencer tantas dificuldades e superar tantas barreiras? Não, não necessariamente, há apenas que se encontrar uma nova forma de comunicação, o que acredito ser o tema central da obra. Essa solução aparentemente simples nos é apresentada no filme por Christy Brown, personagem central dessa bela história, que foi relatada pelo próprio Christy em sua autobiografia intitulada: “Meu pé Esquerdo”. No filme Christy é interpretado maravilhosamente por Daniel Day-Lewis (O Último dos Moicanos; Sangue Negro), atuação que lhe rendeu prêmios como BAFTA, o Globo de Ouro e o Oscar.
    A película de cerca de cem minutos de duração, conta a história de vida de Christy em flashbacks, a partir da leitura de sua autobiografia, pela enfermeira Mary Carr(Ruth McCabe), que deveria apenas cuidar de Christy por algumas horas, enquanto este aguarda uma homenagem em um ato beneficente promovido por Lord Castlewelland (Cyril Cusack) em sua residência. Mas Mary acaba ganhando um novo significado na vida de Christy, pouco depois.
    Nascido em 1932, em uma família de cerca de dez filhos, Christy Brown, só queria provar para todos, inclusive para ele mesmo, que ao contrário do que alegava o pai (Ray McAnally), sua capacidade não era limitada por sua deficiente, o que sua mãe (Brenda Fricker), nunca duvidou. Ao longo do filme, acompanhamos a briga constante de Christy com seu próprio corpo, em busca de uma forma de expressão, que lhe permitisse ser compreendido e mostrar que também compreendia o mundo a sua volta. Técnica posteriormente aprimorada pela doutora Eileen Cobe (Fiona Shaw).
    Essa louvável luta em busca da comunicabilidade, negada pelo próprio corpo é recorrente no cinema e muitas vezes baseada em histórias reais. Como no filme “O Escafandro e a Borboleta” de 2007, filme dirigido por Julian Schnabel, baseado na autobiografia de Jean-Dominique Bauby, o qual após sofrer um derrame aos 43 anos, utilizava apenas os movimentos do olho esquerdo para se comunicar. Ou mesmo do filme “Jonnhy Vai à Guerra” de 1971, dirigido por Dalton Trumbo, que conta a história do sofrimento de um soldado ferido na Primeira Guerra Mundial, que ao perder todos os  seus membros e toda e qualquer forma de expressão passa a se comunicar a partir de seu conhecimento sobre o código morse. Tal história também foi baseada em um livro, o qual Trumbo adaptou ao cinema, sem o apoio de Hollywood.
     E mesmo dominando os movimentos apenas de seu pé esquerdo, Christy Brown, salva a vida da mãe, faz gols, pinta obras que posteriormente ilustrarão sua autobiografia, a qual também é digitada pelo seu pé esquerdo. Ajuda a mãe a assentar tijolos, para cumprir uma antiga promessa de que Christy teria um quarto só seu, inicia uma briga em um bar, de maneira a honrar a memória do pai. Enfim, o filme nos apresenta a um homem que não deixou de amar, nem de sofre, rir ou chorar devido a sua deficiência física, um homem que não se deixou abater pelo que os outros acreditavam que a ele não era cabível. Muito pelo contrário, acredito que ao fim do filme, ficamos a nos perguntar o Christy não era capaz de fazer.

    
 Salma Nogueira.

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